A Poeta, a Vida em Portugal, Hoje, a Morte.
Nota: Não ledes, passai ao lado e o Mundo será vosso, mas todo queimado. Bandarra outra vez, não.
Mas onde a poesia pode colher as gotas que a formam, se não na alegria, ou numa certa tristeza?
Mas a mais das vezes nos rios das lágrimas. A poesia mais bela, sentida e não instrumental pressupõe habitar uma ilha, no meio de um continente. Quando e onde não foi assim, e, alguma vez, poderá não ser assim?
Uma poeta é uma estrela perdida num universo de asteróides da galáxia da morte, da inveja e do ódio. É uma estrela para ser queimada nas fogueiras das inquisições. Será sempre uma alma livre, e a LIBERDADE PERMITIDA É SOMENTE A CONDICIONAL, e nenhuma outra.
Logo, a terra ficará erma; o sol gelo, álgido; a lua negra de breu; os seres humanos ciber-seres. A vida acabará. Restará os cemitérios de abutres, vampiros e cadáveres putrefactos.
Mas quem vai matar o mundo, os capitalistas?
Não, mas sim a maldade universal que é a raiz, a substância, do núcleo duro também dos duplos que por aí andam, cinicamente, disfarçados de gente fraterna e solidária.
Um dia, outrem disse: disse-vos em verdade, a verdade, deixo-vos a verdade. Nada sou desse, outrem, mas em verdade falei, e mais, penso que o Mundo poderia ser diferente, se ao pensamento burocrático, interesseiro, se opusesse o pensamento livre, genuíno, probo, baseado no amor. Mas onde reside este AMOR PURO, LIVRE, AMANTE como o mar que se enrola na areia?
Aqui, neste país, neste Portugal, não. Estamos atados de pés e mãos aos rochedos do autoritarismo e do ódio ao homem, simplesmente, homem, e, quase sempre, povo-plebeu, que se auto consome, para servir os seus senhores, os terríveis ou os substitutos de deuses, reis, ditadores, chefões feitos do estrume dos truques florais.
Obviamente, que quase ninguém entenderá o que quero dizer, porque, em parte, exprimo-me de um modo obtuso, dirão muitos, mas não será, sobretudo, porque não convém, também aos bem instalados nas suas certezas, todas com cariz de crença religiosa, não entenderem o que digo, para nunca se desassossegarem, e, assim, para o Sol, o dia inteiro, a Liberdade, a dignidade e o desenvolvimento nunca irem além de cardos?
O que dizemos às perguntas exigentes:
Quem adiou Abril?
Quem matou o Caravela e o Casquinha?
Quem matou os soldados da Policia Militar no 25 de Novembro 75?
Quem desnacionalizou tudo?
Quem vilipendiou Costa Martins e prendeu dezenas de militares cujo crime foi defenderem o povo-plebeu?
Mas quem destruiu a Reforma agrária e a cidadania de base?
Mas quem abriu as portas ao regresso ao poder das famílias do poder fascista?
Mas quem e porque deixam cair os braços perante o ataque ao 1º de Maio dos super-mercados Continente e Pingo doce?
Mas quem apoia o taticismo tipo Mário Moreno, no filme sobre os embaixadores?
Enfim, que raio de gente somos nós, se à direita somos um espectáculo degradante, e à esquerda, quando a direita cai de podre, voltamos aos abrigos à espera que a tempestade passe, ou de um dilúvio Divino que, morto Moisés, jamais virá?
Com um grande abraço aos que sofrem e vão ver o seu sofrimento aumentado pelo ódio destrutivo do capitalismo e do comportamento burocrático da esquerda.
Andrade da silva