Uma nota no último texto:
O Furriel Pássaro veio na Coluna de Vendas Novas, cumpriu a sua missão, e depois no regresso, também, por sua vontade integrou-se na minha equipa do MFA e, nesta, de facto só podiam estar sob o meu comando, como sempre, os melhores entre os melhores, em competência, honestidade, Espírito de Sacrifício, sublimação do seu eu e ego, em prol da causa Comum- Portugal . e, também, aqui o meu camarada e amigo Pássaro cumpriu, e continua a ser um indómito combatente pelas causas sagradas e imortais do nosso sonho de Abril: LIBERDADE, DIGNIDADE .DESENVOLVIMENTO. Um depoimento que DESMENTE as teorias de Pezarat Correia quanto à Revolução agrária, e, também, quanto á vergonhosa e FALSA (delirante) versão dos acontecimentos do 7 Março em Setúbal, da Policia Judiciária Militar, publicada na obra .Setúbal Cidade Vermelha,.
AOS 30 DIAS DE ABRIL 2018
bem-hajas. Aquele abraço
andrade da silva
MEMÓRIAS
Após o regresso a quartéis, iniciou-se o processo de consolidação da democracia. No âmbito estritamente militar foi criado o Gabinete de Dinamização da Unidade, (G.D.U.) que visava promover o debate e esclarecimento dos militares da unidade e proporcionar-lhes também momentos de lazer como a projecção de filmes até então proibidos pelo regime fascista, bem como iniciativas de outro tipo. Reiniciámos a publicação do jornal da unidade “A Sulipanta”, que incluía artigos de opinião e informação diversa. A unidade deu ainda apoio e incentivou diversas iniciativas de cariz social, pela habitação, saúde, educação, pelo saneamento básico e pelo emprego.
O REGRESSO
Com
o decorrer do processo democrático, destaco o episódio conhecido da “Maioria
Silenciosa” em 28 de Setembro de 1974, promovido pelo General Spínola e seus
apoiantes e que visava destruir algumas conquistas já alcançadas e destituir o
General Vasco Gonçalves de Primeiro-Ministro. Na sequência desta situação, a
E.P.A. entrou de prevenção rigorosa e do lado certo da democracia.
A
vida decorria dentro da instituição militar e a dado momento a Direcção de
Instrução da E.P.A. determinou que o Tenente Andrade da Silva fosse o
Comandante do pelotão de instrução do Curso de Oficiais Milicianos (C.O.M.),
cabendo a mim próprio a honra de ser adjunto de um oficial altamente
prestigiado entre os militares da E.P.A..
Em
7 de Março de 1975 a E.P.A. foi chamada a Setúbal para uma intervenção. A força
comandada pelo Tenente Andrade da Silva e de que fazia parte também o Alferes
Pauleta, entre outros militares, pôs fim a um conflito entre a população civil
e a P.S.P. de Setúbal, que já tinha instalado uma metralhadora e se preparava
para actuar contra os populares. O conflito teve origem numa manifestação de
desagrado da população contra um comício do então P.P.D..(a)
7 MARÇO 75 -SETÚBAL
7 MARÇO 75 -SETÚBAL
Spínola
voltou à carga contra democracia consubstanciado no ataque ao Ralis, em 11 de
Março de 1975, havendo ainda a expectativa de que pudesse fazer o mesmo à
E.P.A. por ser uma unidade altamente empenhada na consolidação do processo
democrático. Na sequência desta acção sobre o Ralis, o comandante da E.P.A.,
coronel Sousa Teles, saiu à frente de uma coluna militar que se foi posicionar
nas proximidades de Bombel, pois temia-se que a unidade viesse a sofrer o mesmo
que o Ralis.
O
ambiente existente no seio da equipa do G.D.U. era muito saudável e de grande
empenhamento na consolidação da democracia e entre todos reinava um espírito de
grupo muito forte, destacando-se o papel do Tenente Andrade da Silva. Por
vezes, interrogávamo-nos qual seria o partido que o Tenente apoiaria e quando
lho perguntávamos respondia que o seu partido era o P.P.P., Partido do Povo de
Portugal.
Após
o 11 de Março de 1975 deu-se início à Reforma Agrária, promovida pelos
sindicatos e pelas forças democráticas e apoiada pelo M.F.A.. As lutas dos
trabalhadores rurais por um posto de trabalho, por salários justos, foi
inteiramente apoiada pelos militares da E.P.A., que procuraram entendimentos
entre os agrários e os trabalhadores, nem sempre com os resultados desejados
devido às posições altamente conservadoras e reaccionárias dos agrários. Após a
ocupação de algumas herdades improdutivas e da formação de cooperativas, a
actuação conjunta dos trabalhadores rurais, dos seus sindicatos representativos
e do I.R.A. (Instituto de Reorganização Agrária), e ainda com o apoio da
E.P.A., por forma a garantir a segurança de todos, sem excepção, foi possível
levar por diante a consolidação daquelas organizações de trabalhadores, graças
ao grande empenho destes e que a famosa Lei Barreto acabou mais tarde por
destruir.
COUÇO AGOSTO 75 . A LEI DA REFORMA AGRÁRIA SAIU BASTANTE RETARDADA.
COUÇO AGOSTO 75 . A LEI DA REFORMA AGRÁRIA SAIU BASTANTE RETARDADA.
Em
13 de Março de 1975 uma força de intervenção da E.P.A. foi enviada a
Montemor-o-Novo,por ordem do Copcon, de que o agrário Vacas Nunes estaria na posse de um arsenal de armas para fazer frente
aos trabalhadores rurais que rodeavam a sua casa numa manifestação de desagrado
por ter tido alegada participação na morte de um trabalhador rural nos anos 50 .
A força comandada pelo Tenente Andrade da Silva intimou o agrário a abrir a
porta para se verificar da veracidade da informação. A custo, as forças da
E.P.A. acederam ao interior da habitação e quando se procurava esclarecer a
situação, o agrário Vacas Nunes colocou à sua frente, numa atitude ignóbil, uma
sua neta de tenra idade como pretenso escudo de protecção pela acção dos
militares. Vacas Nunes, grande agrário de Montemor-o-Novo, que proporcionava
grandes caçadas nas suas herdades aos dignitários do fascismo (Américo Tomás e
muitos outros), facto reconhecido por uma sua filha no momento e que pude
testemunhar, foi levado para Vendas Novas, presente ao Oficial de Dia à
unidade, Capitão Duarte Mendes e ficou às ordens do Copcon, que mais tarde o
mandou regressar a casa.
Os
militares da E.P.A. e, particularmente, os que faziam parte do G.D.U. (Capitão Andrade
da Silva, Capitão Amílcar Rodrigues, Furriel Sequeira, Furriel Pássaro e
outros) procuravam promover sessões de esclarecimento na área de actuação da
Unidade (Vendas Novas, Lavre, Montemor-o-Novo, Couço, Casebres, Escoural, Pias,
etc), também com a participação de Sargentos do Quadro Permanente, com o
objectivo de dar a conhecer o projecto de sociedade que o M.F.A. pretendia implementar.
.
.
Com
o objectivo de conhecer e procurar resolver os problemas dos trabalhadores
rurais, foram realizadas múltiplas iniciativas conjuntas de militares da E.P.A.
e delegados sindicais por forma a encontrar soluções para os trabalhadores desempregados,
visitando campos e herdades e dialogando com os agrários.
Com
o decorrer do chamado PREC foi designado comandante da Região Militar Sul
(R.M.S.) sediada em Évora, o brigadeiro Pezarat Correia, membro do Grupo dos
Nove e do Conselho da Revolução. No G.D.U. sentíamos que essa nomeação
procurava conter (e até fazer andar para trás) todo o apoio que a E.P.A.
manifestava aos trabalhadores e ao povo em geral e que tal nomeação era o
corolário das divergências, que se vinham acentuando, entre o Grupo dos Nove e
os militares revolucionários. Como consequência deste crescendo de
divergências, em especial com o Capitão Andrade da Silva e o Furriel Sequeira,
o comandante da R.M.S. comunicou que estes destacados militares seriam
transferidos para o Quartel-General da Região Militar Sul, mantendo-se como
Delegados do M.F.A. das respectivas classes. Com esta transferência foram
designados Delegados do M.F.A. na E.P.A. o Capitão Amílcar Rodrigues pelos
oficiais e eu próprio pelos Sargentos.
As
divergências, cada vez mais acentuadas, entre os militares do chamado Grupo dos
Nove (e os seus apêndices reaccionários) e os militares revolucionários, eram
sempre confirmadas nas reuniões em que pude participar quer no âmbito da
Assembleia do Exército quer no âmbito da Assembleia do M.F.A..Em 5 de Setembro
de 1975, no chamado pronunciamento de Tancos, essas divergências atingiram
proporções tais que ao Primeiro-Ministro em exercício, General Vasco Gonçalves,
foi retirada a confiança política depois de este ter recusado a nomeação para o
cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que tinha sido
apresentada pelo General Costa Gomes, Presidente da República. A Assembleia do
M.F.A. decidiu ainda afastar do Conselho da Revolução o Brigadeiro Corvacho, o
Capitão Ferreira de Sousa, o 1º. Tenente Miguel Judas, entre outros apoiantes do
General Vasco Gonçalves, ficando os elementos do Grupo dos Nove em maioria .
Passei
à disponibilidade em Outubro de 1975, ainda a tempo de, na vida civil, poder
assistir ao golpe de direita promovido pelo Tenente-Coronel Eanes, Coronel
Jaime Neves e muitos outros e também ao desterro dos militares revolucionários
que tinham “cometido o erro” de estarem ao lado do povo por melhores condições
de vida, pela dignidade e pela democracia.
Vitor
Pássaro