terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A HUMANIDADE FICOU MAIS POBRE. A ETERNIDADE RECEBE UM HOMEM.

 
 
 
 
 
Durante 6 longos anos acompanhados por uma dezena de camaradas militares ( Fabião, Vasco Gonçalves, Otelo, Pinto Soares, Miranda; Lameirinhas, Golias, Duran Clemente, Queiroz de Azevedo, Matos Serra, Custódio Pereira, Cruz Oliveira, Dinis de Almeida entre outros, mas, sobretudo pelo Ferreira de Sousa e mulher, incansável) e povo plebeu alentejano, os advogados Xencora Camotim,Goucha Soares e o meu camarada Gusmão Nogueira ( todos, agora, na eternidade)  acompanharam-me, graciosamente, nas diversas batalhas para judiciais, embora com forma judicial - tipo tribunal Plenário, assim foi o 3ªTMT, com o juiz auditor Rui Gonçalves Pereira - e pré jurídicas( medievais) que os poderes, com a generalizada cumplicidade dos bons cidadãos e militares, engendraram contra mim, porquê:
 
- por ser um militar de Abril, por sinal, o que comandou às 22h 55´, no dia 24 de Abril 74, a equipa que assaltou o gabinete do comandante para o deter e tomar a unidade, a Escola Prática de Artilharia, Vendas Novas, o que aconteceu;
 
- porque não me deixei matar em 18 de Abril 1976, no Funchal pelo Gang “ Os diabos à solta”, depois de ter sido ameaçado de morte pelo flamista -mor Firmino Monteiro, do que dei conhecimento, por escrito, ao Brigadeiro Azeredo que me disse que nada podia fazer pela minha segurança,( grandes autoridades!) mas que me apoiaria em todas as medidas de auto-defesa. Deu-me um apoio eficaz- prisão preventiva ilegítima por 2 anos. Os bons portugueses, de um modo geral, mantiveram-se calados, apesar de, Manuel Geraldo do diário de lisboa relatar os actos bárbaros e o Duran Clemente, but...Tinha 26/27 anos. Estive preso na Trafaria 2 anos.(1977-79) . As pessoas não me abandonaram, deslocaram-se do Alentejo até Lisboa, e deram abrigo à minha mãe no Couço na casa do Zé e da Modesta. Tempos muito difíceis para a minha família: mãe e irmãs.
 
- porque. segundo Sousa e Castro, com o tenente Amílcar Rodrigues fomos responsáveis, sozinhos, por 50% da Reforma Agrária e, segundo a acusação militar, com base num inquérito feito durante mais de um ano pelo Coronel Bandeira de Lima, que deu base a um Julgamento por 6 anos, com um processo com milhares de páginas (2ooo): onde todos depuseram, trabalhadores, latifundiários e militares, entres estes: general Eanes, general Fabião, Brigadeiro Pezarat Correia, Ministro da Agricultura Baptista, responsáveis pelo Centro da Reforma Agrária de Évora Drs Sitima, Crisóstomo etc, em consequência deste processo, passo, então, a ser acusado por tudo quanto aconteceu no Alentejo em favor dos trabalhadores, seria o CONDESTÁVEL DOS TRABALHADORES? Sim, ou Não? Não importa, mas valeu-me o aniquilamento, e todos concordaram, ou calaram-se que lhes interessava a vida deste ou de outro jovem, ontem, ou hoje , ou amanhã?
 
Hoje, partiu para a Eternidade este grande homem que me acompanhou naquelas batalhas, e acompanho-o e à família, desde sempre, e nestes momentos finais da sua vida. Na próxima 5º feira ia visitá- lo. Partiu o homem INTEIRO, O ADVOGADO DE CAUSAS -Goucha Soares, e quis a vida que no momento da partida final estivessem presentes o General Eanes que ao mandar-me para a Madeira lançou-me aos Tubarões, desarmado,  o advogado que jaz morto e que  me ajudou a combater esse tremendo acto, como recordei ao sr. General - a vida!
 
Diz a sua filha, no expresso on-line, crónica de Nicolau Santos
 
“Ontem faleceu o pai da nossa colega Manuela Goucha Soares. Deixo uma nota, escrita por ela: «António Goucha Soares, (Rio Maior, 10 de junho de 1921), entrou para a Faculdade de Direito de Lisboa em 1950 onde se licenciaria em 1955, em regime de aluno voluntário, expressão então usada para designar estudante trabalhador. Advogado durante várias décadas, foi um dos 150 homenageados em janeiro de 2014 pela Assembleia da República, pela Ordem dos Advogados e pelo movimento cívico Não Apaguem a Memória, pela defesa dos presos políticos nos Tribunais Plenários durante a ditadura do Estado Novo.
 
Publicou os livros Os militares e o direito de defesa : o caso do Capitão Andrade da Silva, edição de autor, Lisboa, 1978, e Não se fez justiça : caso do Capitão Andrade da Silva : peças do processo no 142/M/76 do 3º Tribunal Militar Territorial de Lisboa , em parceria com o colega Xencora Camotim, igualmente homenageado pelo Parlamento em 2014.
 
Muito jovem, tirou o curso de Regente Agrícola em Santarém. Nas décadas de 1960 e 1970 manteve uma coluna de consulta jurídica na revista Vida Rural, e militares publicou vários estudos de Direito nessa área, entre os quais, Arrendamento Rural : legislação suplementar, em parceria com o juiz conselheiro Victor Sá Pereira e José Nunes Melro, Petrony, 1976, Lisboa, e Código das Expropriações, Solos e Construção, com Victor Sá Pereira, Livros Horizonte, 1982. Nas primeiras eleições do pós 25 de Abril de 1974, foi candidato a deputado da Constituinte pelo MDP/CDE. Era casado com Maria Manuela Marques Nogueira e pai da jornalista Manuela Goucha Soares, e do professor catedrático de Direito, António Goucha Soares, autor de uma vasta obra na área do Direito Comunitário».
 
 
PS: Registo. que a minha presença no Adeus, pelo facto de ser amigo da família, mas também um militar de Abril foi de algum modo um bálsamo, como referiu a família. O poder ser, um pouco, um lenitivo à grande dor é um enorme reforçador para o sentimento cósmico de humanidade.
 
Nota: Era escoltado por 6 0u 7 soldados armados de G3, (de que fala o sr. Sócrates?), e por um capitão, capitão Cebolas, da Policia Militar, que se fazia acompanhar, ilegalmente, de uma carabina  de caça Grossa: Esta foi a Democracia pós 25 Novembro 75.





 

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