sexta-feira, 10 de outubro de 2014

PÁTRIA TRANSTAGANA PREFÁCIO



                            Nesta obra está o homem, o lutador, o alentejano inteiro que ama e serve a sua terra e o seu povo. Ao seu povo se entrega e todo o seu coração, e terras charrua, com o equipamento que ele, José-Augusto de Carvalho, tem: ele próprio, o seu verbo, o seu amor. E é a este dar-se  para ser consumido sem pressa, por um tempo longo, sem nada mais pedir ou desejar que dar testemunho do seu povo e de si,para que conste, que se ousa chamar - ser poeta, poeta do Alentejo, poeta de Portugal, poeta da Humanidade, poeta do Cosmos. Assim, sempre compreendi e convivi com José-Augusto de Carvalho, desde 2008, na trincheira do blogue da liberdade e cidadania, onde , terçamos as nossas armas, o verbo, a nossa determinação e o amor a Portugal, à liberdade, aos portugueses e à humanidade.

Nesta trincheira nos mantemos.Partilhamos estados de alma, dores, gritos e alertamos para a defesa da liberdade e da dignidade, tantas vezes no vazio, mas lá estamos e ficaremos. Quem faz o que pode, faz o que deve, diz Torga e é, certo.

 É deste homem e desta luta que esta obra fala, dá testemunho, e que a leitura empenhada e alicerçada no sentimento e na felicidade da luta, pese embora, as infelicidades, clarifica,e, assim, cimentada a identificação com a  obra e o autor,nos é permitido perscrutar a inalcançável dimensão deste homem, nosso concidadão, que nos ama - a nós todos e a vós, alentejanos, de um nodo muito particular, por dentro - e nos quer ajudar a elevarmo-nos até ao ponto mais elevado do mundo: o da beleza, da paz, da solidariedade, da liberdade e da justiça. As provas, em poesia e prosa, são muitas. Aludirei algumas, para que este pequeno registo possa ser como que o nosso mural de leitores  a este grande homem português e alentejano.

Nada com José-Augusto de Carvalho pode ser neutro e comigo também não. Talvez, seja esta a razão mais funda, para José Carvalho, me ter pedido estas palavras, missão nobre que honrarei como posso, dando-me também com a clareza de um cidadão-soldado que em boa verdade não se sabe esconder ou dissimular. Mas, como importa, façamos o roteiro a que vos convido, e com o autor havemos de descobrir sempre outros roteiros, como novas estradas. A vida cósmica não finda. 

Mas a pátria sofre e, José-Augusto de Carvalho alerta-nos: Caminheiros - caminhai! Alvorece,sempre!

O poeta, o homem, o que está ao nosso lado, ombro a ombro, fala da gente que canta e vive entre papoilas, que são o sangue que sangra dos trigais, e, dá noticia, que,dia a dia, o alvorecer saúda a alentejana e o alentejano que diariamente com o seu cante cultivam, amam e morrem a defender o chão da sua terra. 

Eia! Morreram Caravela e Casquinha no Escoural, em 1979, lutando pelo Sol de Abril,  mas, quando jaziam, já era Outono, embora Casquinha vivesse a sua adolescente primavera-17 anos de vida, tão cedo matada. Dor, luto, mas o futuro é adiante.Porém, aconteça o que acontecer, o amor está presente. “Versos de amor,meu amor, / cantados ao desafio” (Madrigal). E o passado que dói vive, porque o futuro não acontece e no presente ainda há o nó na garganta, onde, o “tudo”residia “nas garras do nada”. Abril veio, mas o Outono também. (Na memória da vida).

Mas afinal quem é o Zé povo? Quem somos quase todos nós? Somos quem vem dos milénios lutando, mas perdendo mais que vencendo. Diz: morremos “em todas as batalhas / só p'ra mudar de tiranos!” Até um dia... quando? (A verdade de mim).E depois aquele Abril aldrabado, o alvorecer e as estrelas que escondem o mistério que um dia o Toino, filho de uma mãe alentejana, há-de saber, garante-lhe a mãe. Mas mistério maior, é mesmo, ser o Zé Povão, que vem do longe e vai para o muito longe com jornadas de si, em jornadas de si.

 Mas também das muitas outras jornadas dos outros se compõe a vida dos pobres que por pouco caminham, por pão e por vida digna, tudo acontecendo ou não, em dias que passam, mas são iguais, como a lembrança cativa de sofreres recorda, e tudo,porque alguém "roubou o horizonte da manhã amanhecer", libela, o poeta

José-Augusto de Carvalho recorda que o seu povo do Alentejo nunca esquece Maio, Catarina e a mensagem - que é de pé que vislumbramos o futuro -e, assim, para sempre, há- de ser. (do seu poema-Para Sempre). 

Há luta e lutas,mas a terra é sagrada e a mulher e o homem são mulheres e homens, e, nesta sua condição humana, também gostam dos prazeres simples, da sopa e de outros. Nem tudo são lutas, muitas coisas são simples viveres. Eis a mulher e o homem,alentejanos e portugueses, cósmicos, verdadeiros que também, de um modo raiado de luminosidade, nos são apresentados, praticando os actos mais fugazes da vida, embora, fundadores e matriciais da nossa espécie  na assombrosa encenação da vida, ou no pleno acontecer dela própria? Quem o saberá?

Neste poema épico se há sombra, se há lua sombria, sol escondido,mentira que rouba a tranquilidade e, por vezes, a esperança, no fundo deste povo e desta gente alentejana, o alvorecer, mesmo em dia escuro, alvorecerá. E a vida vence: vence num maltês que o guarda fiscal não apanha.

Nada nem ninguém tirará do seu chão o alentejano, ou lhe calará o cante.Eis o alentejano de sempre, como a história o descreve e, eu, um outrem, de uma outra terra longínqua, o conheci e reconheço.

Também, por justiça e honradez,José-Augusto de Carvalho, não esquece outros que palmilham os caminhos deste Alentejo. Saúda  Manuel da Fonseca que palmilhou  caminhos que só ele conhecia. E outros, também, são lembrados e honrados, e todos constituem a sua gente, o seu povo.

O poeta também vê a dimensão azul, onde, escorre o sangue das mãos laboriosas. Só o poeta o  podia ver ,e vê os que partem. Vão e vêm,até quando? E esta pergunta volta, em 2014, a doer, quando se vê o Alentejo sem as gentes que amam o chão e os trigais. Até quando será assim? A Pátria, a Mátria,tem sido madrasta.  Todavia, o poeta alentejano, o simplesmente homem da terra Transtagana, que a canta,imortaliza, o José-Augusto de Carvalho, declara,assume, que até quando o sopro da vida o animar, aqui - no seu Alentejo- estará presente, atento e subversivo. Subversivo, numa palavra Homem-cidadão de direitos e deveres, de sangue e espírito.

Eis o retrato, sem retoques, deste alentejano que conhecemos e estimamos, e que conheço das trincheiras, na linha certa e precisa, do blogue liberdade e cidadania. E, aqui, por toda esta obra épica de dimensão humana,louva-se o Povão do Alentejo, da Pátria e do  Mundo. Do autor, o seu auto-retrato confirma uma identidade e um compromisso à sua gente alentejana, ao seu povo, à nação portuguesa.

Digo-te, se, assim, me é permitido,José-Augusto de Carvalho, nós todos somos tu e tu és um tudo, em nós, e, assim, havemos de descobrir no fim de umas estradas outras estradas, como dizes nos teus poemas, até chegarmos à liberdade, à paz, à fraternidade, à justiça social.

Caro José-Augusto de Carvalho, até sempre!


Andrade da Silva, também como José-Augusto de Carvalho, sou gente da minha gente, a madeirense, e do meu povo nação - o português- cultivador de Abril.

2 comentários:

José-Augusto de Carvalho disse...

Coronel Andrade da Silva, meu querido Amigo, aqui reitero o meu Bem-haja por ter distinguido o meu livro com este prefácio e por distinguido a minha gente transtagana com a sua presença no lançamento do mesmo livro, no Salão da Junta de Freguesia de Aguiar (Município de Viana do Alentejo).
A minha gratidão por tudo.
Até sempre.
Abraço.
José-Augusto de Carvalho

Em tempo: aqui divulgarei a minha intervenção na sessão supracitada.

andrade da silva disse...

Carvalho
Quem vos fica muito grato sou eu.

Bem-Hajam!

Um grande Abraço.

andrade da silva