segunda-feira, 22 de abril de 2013

PORQUE É ABRIL, DE QUE ME ACUSARAM? UMA PÁGINA DA ESFARRAPADA HISTÓRIA.

                                  ( quando em 1975 dizia ao Povo que teriam de fazer as coisas)

 Mas de  que me acusaram?

Há sempre uns grandes amigos do dia 24 de Abril, ou do 25 de Novembro 75 que dizem que nada do que me aconteceu,  suspensão de funções; deportação para a Madeira; processos disciplinares; duas idas à prisão e duas preterições na promoção com a perda de dois ou mais anos na antiguidade e nos vencimentos - um ano ou mais, como major ( 2.100 contos), um ano ou mais como coronel ( 28 mil euros), nada tem a ver com a minha participação no 25 de Abril, mas com actos, para alguns mesmo tresloucados, no PREC,  (para alguma boa rapaziada de uma certa esquerda marcelista sem marcelo, eu até sou mesmo alguém estranho, pudera! Quanto ao pensamento são mesmo uma piolheira,   discos riscados; e quanto à coragem gostam bem mais de uma sala de jantar, ou de uma boite do que da rua,e pior do conflito) todavia eles, estão mesmo OFICIALMENTE ENGANADOS, porque oficialmente fui acusado pelos actos que pratiquei entre 25 de Abril 74 e o 25 Novembro 75, nem mais um dia para a frente, nem para trás,e, então, de que me acusam? Segundo o relatório do general Ajudante general, de 14 de Março 1977, acusam-me:

- de ter praticado  actos  que justificam que seja submetido ao vosso julgamento ( Conselho Superior e Disciplina o Exército)

- assim este oficial ...no período entre 25 Abril 74 e 25 Novembro 75 (sic) , é acusado de ser directo responsável pela conduta e actos que facilitou directa ou indirectamente, que a seguir se indicam em resumo:

- participação destacada em algumas ocupações ilegais e violentas de herdades, nomeadamente do Hotel Planície em Évora , em 1 Agosto 75 ( a verdade participei em muitas acções para colocar as terras incultas a produzirem, então, o MFA não abordava a questão da titularidade da posse da terra  que seria discutida em sede da lei que até Agosto 75 não fora promulgada, aumentando nesta data os movimentos, estes sim, gigantescos de trabalhadores, como foi o caso do Couço)

-em 15 de Outubro 75 incita os trabalhadores a participarem numa manifestação SUV ( nunca ouvi falar da sua existência em Évora) a fim de contestar o comandante da RM Évora ( brigadeiro Pezart Correia);

- Em 25 Novembro 75 desloca -se de Évora a Vendas Novas sem a devida autorização, e,  aparentemente troca impressões genéricas sobre situação com vários elementos da Escola Prática de Artilharia (A verdade desloquei-me, porque o Quartel em Évora era  dos 9, não sabia nada do que se passava, e o Pinto Sá (pai) de Montemor disse-me que os capitães Ferreira de Sousa e Amílcar tinham sido presos e a seguir seria eu. Como delegado do MFA em toda a região militar não precisava de  autorização para me deslocar,  aliás, fiz muitos movimentos sem guia de marcha, para não receber ajudas de custo);

- ter interferência na tentativa de desmobilização dos Soldados do Regimento de Cavalaria de Estremoz que às ordens do PR, em 26 de Novembro se dirigiam para Lisboa (falso nunca os contactei);

- ter telefonado para o Copcon avisando da passagem daquela coluna pelo Vimeiro:( uma verdade, pois devia fazê-lo)

-è acusado de ser um individuo ( deixei de ser capitão ou oficial) exuberante, ( esta, ADORO) imbuído de fanatismo ideológico, impulsivo e imponderado, sendo os próprios superiores que se pronunciam desfavoravelmente em relação à sua personalidade e maneira de ser ( tinha 25/26 anos) que pretende impor a sua opinião contra tudo e todos ( dizem estes bons amigos,e os bons democratas de hoje e sempre, nisto há uma santa e diabólica aliança, entre abúlicos e covardes  sou pior que o diabo, porque eles sabem o que penso sobre essa gentalha, são um vómito) abusando das suas atribuições 

 Não se inibiu de mandar prender civis por motivos estranhos às autoridades militares, fixando até prazos para essas prisões ( se pudesse prender teriam ido dentro muitos latifundiários por puro roubo e sabotagem e militares, ditos de Abril, por  traição e comportamentos em favor dos fascistas e os pides –os torturadores . Pedi o julgamento destes criminosos - que mataram  nacionalistas  africanos às postas - nas assembleias do MFA ao Generais Costa Gomes,Vasco Gonçalves e Fabião);

- em 1975, num comício (?) em Coruche declarou que os trabalhadores poderiam assaltar a casa dos patrões e apropriarem-se dos bens, quando não lhes pagassem os vencimentos ( nunca o disse, mas... de qualquer modo pagaram, quando intervim milhares de contos de vencimentos em atraso, como, por exemplo,  no restaurante o Fialho de Évora,etc etc Então quem trabalha não tem de receber um justo, que rara vezes é, vencimento? Exigir isto  é ser comunista, ou imponderado, ou impulsivo?

- em 13 Março 1975 em Coruche incitou à violência e ao saneamento de várias individualidades ( a verdade: neste dia, após o 11 Março 1975, o povo derrubou as estátuas do major Oliveira fundador da PVDE e a de Veiga Teixeira, pai, pedi para guardarem as estátuas, podiam servir para obter fundos, mas pura e simplesmente acompanhei as populações, quanto à do Major sem nenhuma hesitação);

-Promoveu um plenário da associação de Regantes do vale de Sorraia, introduziu elementos estranhos e segundo indicações do PCP local saneou os corpos gerentes ( a verdade: houve o plenário, sei lá eu quem lá estava, para pedir contas ao filho do engenheiro Rapazote, ele próprio, perante a pressão, demitiu-se, o que, até considerei  precipitado, mas...eu não era Deus, nunca fui, logo...)

- procurou impor um contrato ruinoso de arrendamento rural (falso nunca estive em nenhum, mas neste caso esteve um elemento da minha equipa,  o furriel Sequeira, sobre a queixa nada sei, porque foi feita contra mim, pós 25 e Novembro, já lá não estava, mas a orientação estrita era respeitar os direitos das partes e o furriel Sequeira falou do livre consentimento do dono, o que, julgo ter sido o caso, naturalmente do modo que sendo justo cobrisse a injustiça que estes proprietários provocaram durante anos contra os alentejanos);

Interferiu num interrogatório na EPA, fazendo comentários não reproduzidos que levou um seu superior a ter necessidade de intervir ( Falso, o que aconteceu é que uma herdade do Sr. Vacas Carvalho de Montemor foi ocupada pelos trabalhadores, e quem lá esteve foi o meu camarada  capitão Castro Pires e não eu, mas a este capitão o sr. Vacas de Carvalho tece rasgados elogios, todavia, porque estavam armados com espingardas automáticas,  o capitão Castro Pires traz toda a gente para o quartel de Vendas Novas, onde,  me encontrava. Neste caso, como em quase todos os complicados foi- me pedido para intervir pelo tenente coronel Segurado, 2º comandante da EPA, e a frase não reproduzida,  mas que devia ter sido  foi esta: SE TENTAREM, COMO PRETENDEM, REOCUPAR A HERDADE PELA FORÇA, TERÃO PELA  FRENTE UMA FORÇA POR MIM COMANDADA COM AS ARMAS APONTADAS PARA VOCÊS,  PORQUE JÁ SE DERRAMOU MUITO SANGUE DE TRABALHADORES, E AGORA, SE HOUVER DERRAMAMENTO DE SANGUE JÁ NÃO VOLTARÁ A SER DO DELES - honro- me desta declaração, e eles desistiram do seu intento, porque sabiam que não haveria contemplações.)

- Chamou ladrão e fascista a um civil que manteve preso durante 5 dias ,é referido um tal António Vicente de Carvalho ( como podia prender se não tinha nenhuma prisão ou coisa parecida? Chamar ladrão e fascista  raras vezes o fiz, mas admito que tenha feito umas quantas vezes, ninguém é de ferro);

- no Escoural intimou o dono do cinema a dar as chaves  deste ao povo, sem cuidar dos seus direitos (os factos: é verdade, o  cinema estava transformado em celeiro, ficou assente  que o povo do Escoural, pagaria uma renda, mas o cinema teria de funcionar, obviamente );

- em 13 Março 75, pelas 4 da Madrugada dirigiu-se com vários civis e militares a casa de  Vacas Nunes em Montemor, tendo arrombado uma janela e entrado na mesma, antes tinha dado uma rajada  para o ar ( Os factos: recebi do Capitão Duarte Mendes, oficial de dia à EPA, mais uma vez, como quase sempre acontecia ,neste tipo de missões,  uma ordem para deter 3 indivíduos que estavam cercados pela população em Montemor,  um deles era o  Sr Vacas Nunes, outro um Dr. Álvaro Cunhal( latifundiário),e um outro. Quanto ao Sr Vacas Nunes diziam que ele era responsável pela morte de um trabalhador nos anos  50, e que, então, tinha até alterado o trajecto do cortejo fúnebre  A raiva era muita e os populares acusavam-no de ter armas e ser do ELP.  Para lhe garantir a segurança depois e dar tiros para o ar, de dizer quem éramos, assaltamos a casa, conforme está descrito. Lamento que à frente dele no cimo das escadas ele apresentasse uma criança, que lhe pedi que retirasse, o que ele não fez. Expliquei-lhe ao que vinha e que era para lhe garantir a segurança física.  Nunca o compreendeu. O dr. Cunhal não estava em Montemor, logo não foi detido, e, ainda, veio connosco, a seu  pedido,  um latifundiário, de nome Godinho.


E pronto. Haverá Portugal, SEMPRE! Mas com Abril arranjei alguns amigos e muitos sarilhos, mas valeu e valerá a pena, sobretudo, se Portugal vencer. No meu Abril não cabem os fascistas, nem os pós-pseudorevolucionários protofascistas.

andrade da silva

1 comentário:

andrade da silva disse...

A tortura e a morte começaram cedo, muito cedo, para alguns, mas estavam quase todos bem, esqueceram-se que eles iam regressar, demoraram algum tempo, mas vieram,e estão aí. CULPADOS: OS COVARDES, OS EUNUCOS e OS MERCENÁRIOS.