sexta-feira, 15 de julho de 2011

O CASO DO JULGAMENTO DA OBRA: "A FILHA REBELDE"


( Foto de Fernando Barbosa Ribeiro)




Tenho acompanhado o caso como posso, quanto à acusação não considero que os sobrinhos de Silva Pais sejam ingénuos, e, assim, por iniciativa própria, ou instigados por outros, quiseram afrontar a democracia, acusando autores e artistas de terem deturpado a " querida" imagem que em privado têm do seu entequerido, esquecendo o grito, a dor, a revolta das vítimas mortas e torturadas por aquela polícia e toda a castração de que fomos vítimas, e resta mesmo saber se Salazar também não foi, a partir de certa altura, um prisioneiro daquele monstro criado por si.


Todavia se a intenção daquelas pessoas foi afrontar a democracia, vão sair derrotados, como é natural, face à perversidade da matéria da acusação. Para esta os autores teriam difamado Silva Pais, como já se sabe, por ele ter chamado traidor ao general Spinola, ter dito que a filha teria sido a maior monstruosidade concebida por si, e que ao dizer abatam-me esse general foi cúmplice no assassinato de Humbero Delgado, e ainda o facto da filha dizer que o pai se pudesse a prendia.


Como todos percebem esta acusação é frágil, sem pernas para andar, e seria uma causa pedida em qualquer tribunal de um estado não ditatorial, portanto, a diferença que pode haver, quanto a mais ou menos vitória da Democracia, será a extensão e a amplitude da sentença quer quanto à defesa da liberdade de expressão, à co-autoria de Silva Pais nos crimes da PIDE, à natureza desta, e ainda se se provou, e o juiz o considerar, a referência ao comportamento doloso da acusação. Tirando-se, deste modo, no domínio jurídico e público, todas as consequências, mesmo que novas diligências a fazer, ou seja, abrir um processo contra aqueles parentes, que no caso de dolo não devem ser poupados. Devem saber o custo de ser réu e o de brincar com a história e a probidade dos outros.


Mas a nível nacional deveria pegar-se pelos "cornos" a tourada da PIDE.


Em 1974/ 1975 fui dos que levantei bem alto a minha voz nas Assembleias do MFA para se julgar o fascismo, o que também outros defendiam, levando o general Carlos Fabião a dizer que tínhamos de desenterrar Salazar para o julgar. Até aos fins dos dias de Carlos Fabião, apesar da minha grande amizade e admiração por ele, no que si sempre me retribuiu, nunca o deixei de zurzir, por causa de nunca o ter feito.


Na agenda politica e anti-fascista deveria ter estado, desde há mais de 30 anos, o seguinte:


Mas então porque não se julgou a PIDE?



Porque quis dar Spínola 24 h a Silva Pais para Cavar?


Porque se permitiu sucessivamente o desaparecimento dos arquivos, alguns ao que dizem com saída para os partidos, e depois para o estrangeiro, nomeadamente Moscovo? E ao ser verdade, porque nada se faz para reaver aqueles processos?


Porque não se ouve em comissão de inquérito a comissão de extinção da PIDE, em que alguns dizem saber coisas monstruosas?



Porque se fez um lei tão imprecisa e investigou tão mal os casos que levava o Juiz Barata a dizer no tribunal Militar que só os podia absolver? Muitos saíram do tribunal com honra e Orgulho. Assisti a alguns destes julgamentos, um vómito, um gozo.


Porque não se accionou os mecanismos de incompatibilidade quanto aos juízes militares que antes tinham cooperado com os PIDES?


E, ainda, para os distraídos estes julgamentos tiveram lugar no pós 25 Novembro na vigência do Conselho da Revolução, que fazia as vezes de Conselho de Estado, sendo que os juízes militares eram NOMEADOS pelo Chefe do Estado Maior do Exército.


Não há afrontas, nem dividendos a tirar para ninguém, porque tudo isto é triste, ignominioso, há é que conhecer a história e a própria PIDE.


Como hoje novos investigadores vão apurando ( Salazar e a Conspiração do Opus dei, Pedro Brandão) a PIDE não se limitava a bater, prender, torturar e matar comunistas, mas vigiava outros dignitários e através do estudo das informações criava cenários para impedir qualquer devaneio evolucionista aos próprios ministros de Salazar. Quanto Salazar pode ter sido condicionado por esta policia de informações nas suas decisões.


A PIDE, agora, só pode ser julgada historicamente e do mesmo modo, os que não permitiram o seu julgamento, estes, com a responsabilidade acrescida de terem derrubado o fascismo e terem garantido e jurado servir o povo, embora também não se entenda bem como o fariam, quando mandaram carros de combate contra esse povo e prenderam os militares que mais de perto estiveram do povo.


Será que não se quer falar disto porque não convém, ou há, continua a haver os interesses ocultos de sempre que tudo bloqueiam, embora disfarçados de grande fervor anti-fascista.... coisas, mas é bom estar atento.



andrade da silva



PS. Por uns dias deixo esta actividade, embora, haja matéria a abordar.


Leitura da sntença dia 22, às 14 h no 2º Juizo Criminal de Lisboa, metro oriente, local Campus de Justiça. Será por certo um momento histórico.




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