quinta-feira, 21 de julho de 2011

HIDRA FASCISTA: NEM JULGADA, NEM DERROTADA.





Este tema é recorrente, mas não venho dizer o já dito, pelos que negam a realidade de dois modos, ambas, por conveniência e medo: uns dizem que o fascismo já foi derrotado, para se sentirem confortados com a sua hipotética vitória, outros, os beneficiários desta praga negam-na para melhor puderem chupar o sangue fresco da manada.


Mas a verdade, é que a Hidra do poder que sustentou o fascismo e todos os totalitarismos está viva, e em Portugal regenerou-se bem e depressa dos eventuais danos que o golpe de estado do 25 e Abril 1974, seguido de uma moderada perturbação revolucionária possa ter provocado.

Em Portugal, na realidade profunda das coisas, com o 25 de Abril, não houve mudança efectiva do poder, nem poderia ter havido até às últimas consequências pela alienação do povo e ausência de verdadeiras e fortes elites morais, culturais e sociais, fora do sistema ditatorial e insano.


Todavia, deste ponto de vista, por razões diferentes a revolução portuguesa fracassou como todas as demais, ressalvando-se, no nosso caso, dois aspectos essenciais: a conquista da dignidade e a baixa violência.


Salazar aos modos hoje, do ditador líbio, sufocava as rebeliões com canhões de artilharia, fazendo centenas de mortos, milhares de feridos e milhares de deportados , do que não se fala, e quase todos desconhecem.


O regime de Salazar instalou-se a ferro e fogo de 1927 a 31, com grande sacrifício de militares, como o general Sousa Dias - a luta heróica de resistência dos militares é uma das mais nobres páginas da História de Portugal de que os partidos por estreiteza de vistas, branqueamento da história, sectarismo e uma verdadeiro pulsão para a derrota ( princípio freudiano para a morte, por oposição ao da vida) não falam.


Para além deste DNA pacífico do 25 de Abril, o 25 de Abril, ainda deixou uma marca importante na sociedade portuguesa, sobretudo ao nível dos estratos sociais mais escravizados que foi a conquista da dignidade e da cidadania, que embora se vá perdendo, ainda se mantém a um nível que não viola de um modo brutal a consciência civilizacional mais pura e nua deste século XXI.


O pós 25 de Abril 74, foi um período de esperança, anarquia e alguns abusos sem violência grave, como feridos, mortos ou prisões dignas de registo,tendo como referência o fascismo, e, ou a 1ª República.


A turbulência revolucionário, seria normal, mas o mais grave foi que a falta de um projecto alternativo ao dos Estados Unidos , ao soviético ou cubano, não podia sustentar nenhuma direcção politica, para um projecto pós 25 de Abril, que assim seguia para nenhures, o que, deu todo o espaço para que os EUA, a Alemanha, através de Mário Soares e dos militares do 25 de Novembro 75, levassem Portugal ao redil do capitalismo financeiro, restituindo todo o poder económico, financeiro e o politico - este na capacidade de fazer eleger os seus defensores - as antigas famílias que fizerem de Portugal uma sua quinta, desde há mais de 2 séculos.


Nesta fundura funda das coisas, nesta continuidade com algum desnivelamento, como seria possível julgar os mais fiéis servidores do fascismo, os agentes da PIDE, se os senhores que serviram são o PODER?.


Há uma certa esquerda que não compreende isto, porque lhes falta a memória da prática do valor da gratidão, o que, deveria ser mais uma sua caracteristica, por ser, quase sempre minoritária, mas infelizmente não o é, e é mais uma virtude da direita, apesar de maioritária.


Se ao comando do poder, continua quem sempre esteve, como poderiam julgar-se a si próprios e aos seus mais leais servidores, os agentes da PIDE?


Por esta questão determinante e essencial da natureza do Poder, e pela sua continuidade secular em Portugal e no Mundo, nunca o fascismo português será julgado, desde logo, pela razão de ter agido dentro de limites aceitáveis pela Europa de sempre, mas mesmo que tivessem sido mais severos, continuavam a serem aceitáveis de um modo intrínseco pela Europa; e ter servido o capitalismo europeu e internacional, logo, foi absolvido de todos os crimes.


O poder é uma hidra de muitas cabeças, uma delas será a fascista que também se reproduz e cria novas hidras com várias cabeças, entre nós surgiu com a PIDE, a censura, o controlo dos cidadãos, a aliança Igreja- estado, o poder discricionário dos muito ricos, o banimento social, a prisão, a tortura, a manipulação da informação, a propaganda, o trabalho sem direitos e a falta de direitos públicos mínimos na saúde, educação, nos tempos de bebe e meninice e nas idades mais avançadas etc.


Comparando esta lista exemplificativa ressaltam as grandes diferenças e semelhanças. As diferenças resultam do que foi a grande perturbação do 25 de Abril e também da entrada na União Europeia; as semelhanças, da continuidade do poder na sua essência e de estar ao serviço de interesses imorais de enriquecimento de muito poucos à custa de milhões.



O que nos resta?


É fazer o que ainda ninguém conseguiu, mudar a natureza deste PODER, o que, exige uma grande transformação das elites e das pessoas. Emergência que não se vê, nem no Movimento M12, e, muito menos, na barafunda da ideia de correr com todos os políticos viciados nos caminhos antigos que levarão sempre às mesmas desgraças. Tão cruel realidade exigiria ter novos caminhos, pensar e agir de modo diferente, do que se repudia. Todavia esta mudança está muito longe de acontecer, e, assim, só o INFERNO nos pode servir de fim do Mundo.




andrade da silva


PS: Bem vindos e obrigado por estarem connosco. Muito obrigado à Manela, ao Diogo e ao Chico. Obrigado tragam mais cinco vezes cinco. abraço.



2 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Muito grata por poder ler este seu artigo.

Bom fim de semana!

andrade da silva disse...

Muito obrigado.Um abraço.

Que a luta contra a mentira, a camuflagem nunca ceda passo às vis propagandas, sem a verdade nunca sairemos dos atoleiros.

O ministério Publico no caso do julgamento da Filha Rebelde deu um argumento fundamental para ACUSAR os que não promoveram o julgamento do fascismo, mas será que o fascismo tem em Portugal e no Mundo outros irmãos gémeos com outros nomes?
asilva