quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O POVO VOTOU E MUITO POVO NÃO.



Neste quase-diário, partilhado por alguns, quero só recordar que desde 2008, antes das coisas acontecerem e contra previsões irrealistas, não baseadas na análise sociológica e mesmo psicológica, tenho falado do que vai acontecer, até mesmo da atitude dos que para esconderem o seu erro sistemático, fazem leituras das eleições que o contexto do processo normal de conquista do poder, ou mesmo de mudança social, pela via eleitoral, não permitem.


Logo, quando fazem discursos outros, estão numa dimensão da realidade outra que não a da sociedade e dos factos sociais que estão a acontecer. Comportamento que desde há mais de 30 anos se efectiva, mas não surte efeito social ou politico mensurável, mesmo numa hora de grave crise social, então, porque se insiste nesta táctica, como parte de uma estratégia correcta de valores e sabedoria?


Quanto à vitória nas eleições presidenciais, como em quase todas as anteriores, a parcialidade da comunicação social, particularmente da RTP1 - horas, imagens, solenidade dada aos candidatos que quer que sejam os vencedores - o facto da maioria dos portugueses serem sociologicamente conservadores, o papel de indicação implícito da Igreja Católica, a instrumentalização politica da pobreza, a dramatização da estabilidade, os silêncios e as fragilidades das candidaturas alternativas explicam, maioritariamente, o sucesso, ponto.


Todavia é intolerável a sistemática abstenção na ordem dos 50%, e ainda é mais inaceitável que só nestas eleições se fale neste cancro. Pessoalmente falo dessa trágica realidade há anos, e procurei apoiar um grupo de cidadãos interessados em combaterem esse flagelo, que, na minha opinião, deveria ter sido o grande desafio das candidaturas, nomeada e particularmente da de Fernando Nobre que acabou, sabe-se lá porque, por bater-se no mesmo terreno que o de Manuel Alegre, repetindo-se o cenário das eleições de 2006 na disputa entre Manuel Alegre e Mário Soares. Haverá um maquiavélico ajuste de contas?


Mas, seja como for, se algumas das ideias modernas dos apoiantes de Fernando Nobre tiverem provimento a sua presença deverá manter-se no terreno, com um quadro organizativo muito atractivo: democracia participativa, organização flexível, bastante autónoma e em rede, evitando a concentração do poder e das orientações num directório e, ou numa grande figura, o que, talvez não resista às provas de fogo da realidade, ou mesmo já não tenha superado as armadilhas da campanha eleitoral.


Todavia o sucesso obtido tem de ser analisado pela sociedade e pelos políticos que queiram mudar, hoje, a sociedade portuguesa, para uma comunidade de concidadãos mais justa e que promova a dignidade pessoal, a da democracia com a igualdade dos cidadãos perante a lei, administrada por tribunais justos e eficazes e a dignificação do desenvolvimento sustentado: económico, social e ambiental.


Mas de tudo haveria umas quantas conclusões a tirar, como:


a- as mensagens politicas, desde há décadas, chegam a mais gente, quando comunicadas por concidadãos independentes, como nunca poderia deixar de ser numa eleição unipessoal, em que, a personalidade, os valores e a empatia do candidato contam muito, sobretudo em eleições em que alguém já é o eleito pela quase totalidade da Comunicação Social, entre nós, sobretudo pelas T V, para muitos o único meio para se informarem


b - A abstenção é um apontar de facas a este sistema, regime e políticos. Mas é um escândalo que façam de conta que ela não existe, e que tudo se mantém com a mesmo grau de coesão social, haja um só português a votar ou 10 milhões, isto, é um absurdo letal. Todavia estes cidadãos que se abstêm, têm um comportamento pária, e deveriam ser de todos conhecidos, deveriam também PERDER, desde logo, o DIREITO DE RECLAMAREM OFICIALMENTE do quer que seja. Não dão nenhum contributo cívico para mudar, ou manter o que existe, logo, perdem o direito de exigirem o quer que seja. Da minha parte quando alguém, daqui para a frente, vier com vontade de pôr a boca no trombone, vou-lhes perguntar se votaram, se não o tiverem feito, mando-lhes darem uma volta, e merecerão a minha mais profunda desconsideração, o que, convido o estado e os meus concidadãos a fazerem


c- a caricatura destas eleições e desta democracia personificada em José Coelho exige uma profunda análise, porque entre outras coisa, hoje, dia 25 de Janeiro 2011, nos centros comerciais e por outros sítios, por onde passei, em pequenos grupos falava-se mais do governo que Coelho apresentou ao país do que de quem ganhou ou perdeu estas eleições, e também o que pensar e dizer, quando João Jardim lhe vem retribuir o título de Hitler.


andrade da silva

4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Sem dúvida! Capitão
mas quem votou, na maioria, tramou-nos e temos o Cavaco às costas, porque esses votaram; antes o não tivessem feito...agora temos que ver encarrapitado na Presidência de Portugal, alguém de quem nem se sabe tudo, mas de quem se sabe demasiado já! e iremos de certeza ao longo deste mandato "cultivar-nos" a esse respeito muito mais!
mas fica a pergunta, quem não votou, teria votado em quem?
abraço
Marilia

andrade da silva disse...

Marilia

Essa pergunta tem muma resposta muito, muito simples, são desde há muito 50% da população portuguesa não votam porque não querem, e são uma parte muito disponível de gente disponível para a formação de tsunamis soiais, dirigido por gente fora do sistema, mas vou voltar ao assunto. Estamos perante um cancro da democracia em geral.

abraço
asilva

Helena disse...

Concordo consigo. Em... quase tudo.
Na verdade, esse quadro organizativo atractivo, de "democracia participativa, organização flexível, bastante autónoma e em rede, evitando a concentração do poder e das orientações num directório e, ou numa grande figura" já me atraiu o suficiente para me tentar. Mas o processo foi absolutamente frustrante e deixou-me a convicção de que, por (ainda...) deficiente capacidade nossa de intervenção cívica fora dos espaços partidários, essas experiências acabam inevitavelmente por morrer numa confrangedora falta de democraticidade das decisões.
É pena. Eu, pelo menos, tenho muita pena!

andrade da silva disse...

Helena

Como também digo no texto dei contributos para que com essas características tivesse nascido um movimento, ao que se acrescentava a defesa da dignidade pessoal ao longo de toda a vida, um código de conduta etc., mas à menor dificuldade, quando a democracia participativa começava a funcionar, logo os defensores da ideia se fecharam em directório, mas como alguns destes estão na candidatura de Fernando Nobre é natural que isto seja tentado e creio mesmo que Fernando Nobre, como aconteceu com Manuel Alegre vai ser muito pressionado para formar inicialmente um movimento à imagem de Alegre e depois um partido se não o fizer vai desencadear a frustração que Manuel Alegre lançou no meio de alguns dos seus apoiantes do Movimento independente de cidadãos (MIC).

Mas já em 1976/77 tinha dado contributos para um projecto deste tipo a partir dos 3 D do MFA, farei por estes dias um post, e como a Helena tenho pena que tudo isto falhe, mas Salazar, a Inquisição, a intolerância, os processos anti-democráticos de eleição de dirigentes e formação de decisões estão vivos na alma e na mente de quase todos nós e de um modo particular nos que tomaram o poder nas organizações desde as sociais às de solidariedade. Temos um vocação e tradição totalitárias fortíssimas.
Tenho muita pena, mas…


asilva