domingo, 18 de abril de 2010

VIDA. DECISÃO.





Trouxe para o blogue por altruísmo e amizade um assunto do meu foro pessoal, fi-lo, porque também aprendi na psicologia-cognitiva comportamental que devemos de dar aos nossos amigos a oportunidade de nos apoiarem nos momentos de dor. Não o fazer poderia ser soberba, arrogância e egocentrismo.

A questão é até em termos técnicos posta às pessoas que sofrem sós, através da pergunta se elas não gostam de apoiar os outros em situações difíceis. Se sim, então, porque recusam aos seus amigos igual direito e bem estar moral? Eis a razão, porque vos falei.

Naturalmente que o meu desejo justo e humano era voar para junto da minha mãe, mas a Madeira não é, nem o Porto, nem Faro, tem 900 km de mar e a grave tragédia – que também é a vida - que afecta, a minha mãe e os seus filhos, levanta uma questão crucial que é a do apoio à minha mãe e à minha irmã residente na Madeira.

Nós agimos, a minha irmã residente, a minha irmã que vive no Algarve que é médica e eu como um triângulo de apoio, avançando para o terreno quem melhor na situação puder cumprir um papel útil à minha mãe e irmã residente na Madeira, neste caso, obviamente, foi a minha irmã médica, para o diálogo médico útil nestas situações.

Todavia para quem não sabe, porque esteve sempre perto dos seus, sofrer à distância não é em nada menor do que sofrer em tempo real, pode até ser pior, não permite nenhuma dessensibilização. É o sentimento da impotência total, e, isto conhecem bem os militares em operações quer nas da guerra colonial, quer os das missões de paz.

Recordo quanto sofria a mãe de um soldado que esteve em estado de coma no Hospital Militar Principal, por viver em Vila Real e não ter dinheiro para as deslocações, e nem sequer havia meio legal de financiar as suas vindas a Lisboa por falta de rubrica contabilística, apesar do Regimento de Comandos ter essa dinheiro disponível.

Nas minhas várias vidas já vivi a de muitos outros. Felizmente este soldado pelo grande trabalho, amizade e competência de um grande camarada e grande Homem, tenente-coronel médico Rui de Carvalho do HMP, regressou à vida.

Uma vez mais na tragédia que sobre nós se abate a DECISÃO CONJUNTA DE NÓS OS TRÊS É A SEGUINTE:

1- A Situação clínica da minha mãe é que provavelmente não recuperará do AVC;

2- Face à sua avançada idade poderá morrer a qualquer momento por qualquer inflamação sobrevinda


3- Neste momento está orientada medicamente e devidamente apoiada pelas minhas duas irmãs, dando o devido apoio à minha irmã mais fragilizada a minha irmã médica que é também um grande mulher,

4- Consideramos que o apoio à minha irmã residente e à minha mãe deve ser continuado e não baseado em três e depois num filho, mas sim quanto possível em 2, para garantir também algum apoio à minha irmã residente


5- Assim a nossa decisão é que nesta fase até 25 de Abril 2010, coincidência, fico onde estou e avanço para uma segunda fase de apoio, isto, porque nenhum de nós pode ficar por muito tempo no Funchal e só poderá deslocar-se à Madeira com muita parcimónia ( o que ganhamos mês é menos de 25% do que ganha num dia, o DEUS DA ECONOMIA PORTUGUESA, sr. Mexia, a vida...)

6- Se entretanto houver um desenlace fiz o que moralmente devia ter feito, como sempre na minha vida, e fi-lo com a dor de quem ama e, neste caso particular, tem o maior orgulho, um imenso orgulho, nos seus pais. Também por causa da insaluridade e não só, o meu pai morreu no Minho, estava eu na Madeira e a minha mãe no Brasil, para onde iriamos se o meu pai, entretanto, não tivesse morrido.... a vida... a vida... as suas contra-curvas.

A vida.... a vida.... e as suas contra-curvas....

Aos que com recta intenção e por altruísmo me quiseram indicar os caminhos mais evidentes, o meu obrigado, mas esses também os conhecia, e se não os palmilhei só poderia ser por uma razão muito maior.

Será sempre bom ver as dificuldades da insularidade e das diásporas. Nada, de nenhum ponto de vista afectivo, financeiro etc, é fácil para os membros das diásporas. Até mesmo o arranjar lugares em cima da hora num avião, serve para engordar os negócios das transportadoras.

Embora completamente fora deste contexto, mas porque se falou de Abril, sempre direi que tenho orgulho no 25 de Abril, mas não me identifico com as festividades actuais até, porque o 25 de Abril genuíno, o do amor que iniciamos com o povo tempos depois daquela data, foi morto no 25 de Novembro 75, hoje, existe mais é 25 de Novembro, o que, muitos cobardemente calam, e vitoriam no 25 de Abril, os tais vitoriosos do trágico Outono, portanto, no dia 25 de Abril, como nos outros, luto é pelo Abril perdido, e para que não se perca mais, ponto.

Não vivo junto de nenhuma gamela do poder, nem de nenhumas tetas, nem me misturo nas tais festividades com gente inimiga do POVO MAIS DESFAVORECIDO.

Como diz, nas suas obras sobre o 25 de Abril, Dinis de Almeida, nos idos de 73 Kaúlza de Arriaga queria valer-se do apoio dos capitães que não tinha, para ganhar dividendos pessoais. Outros fazem hoje a mesma coisa, enganam à esquerda, e o povo lutador, para obterem dividendos pessoais da Governança. Não há almoços gratuitos. Vivemos na lama, na mentira, na cobardia e na hipocrisia.

Nesta vil tristeza e neste chiqueiro nunca estarei em festividades, mas estarei sim, a comemorar o 25 de Abril, onde, o povo de Abril estiver, o que, procuro fazer todos os dias. Não preciso de calendários, mas eles existem, logo…

Obrigado aos que genuinamente me apoiam e são solidários.

andrade da silva
PS: Procuro também dar um contributo para que se conheça mais, quão, por vezes é complexa, trágica dificil a vida, dos membros das diásporas.

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

COMPANHEIRO e ESTIMADO AMIGO

só os próprios, quer neste caso que o toca profundamente, quer noutros casos, com qualquer de nós, estão em posse dos dados que lhe permitem analisar determinada situação!
Mas a amizade profundamente fraterna, não permite indiferença, aliás segundo a definição o verdadeiro contrário do sentir estima, amor ou amizade, não é sentir ódio, mas sim indiferença!
Com razão que é de qualquer bom filho, mais ainda quando os pais se ultrapassaram na sua missão de pais em esforços e amor,o seu anterior post deste a imagem que é linda, às sentidas frases de dor e aflição, tiveram tal eco em todos os seus amigos, que nos manifestámos como reflexo da dor expressada. Talvez que o nosso dever, tivesse sido o de dar esperança! Essa admirável companheira que é sempre a última a morrer e a primeira que nasce.
Mas meu amigo aqui também nós fomos confrontados com a nossa pobre humanidade e sentimos apesar do total desconhecimento dos factos, a sua dor como nossa e talvez ampliada pelo desconhecimento das possibilidades de cada um!
Se nos ultrapassámos,desculpe-nos,
que tão longe andámos da indiferença!
Quanto a Abril, é e serà sempre o meu amor pelo 25 de Abril de 1974 e com tudo o que se escancarou para Portugal e seu povo! Desde as prisões que se abriram devolvendo aos presos políticos a Liberdade que nunca deveriam ter perdido, como o fim das guerras coloniais e a Independência das eis colónias, a todos os direitos a que o povo adquiriu e de que nem suspeitava a existência, as comissões de moradores, de trabalhadores, a solidariedade do MFA para com o povo, abrindo caminhos, levando a água onde a não havia (estou a pensar por exemplo nos pescadores da praia de Faro)e é claro a Reforma Agrária, tantas são as razoes de nos orgulharmos de Abril!
Mas nos meandros da política há segredos, o que não é especifico a Portugal! assim e graças a esses segredos os PIDES foram-se volatilizando das prisões! Assim nunca houve um processo do fascismo em Portugal e de todos os que pactuaram com ele torturando, matando e denunciando os filhos de Portugal! Isso foi um roubo que nos foi feito. Claro que o 11 de Março, Lisboa bombardeada, hoje parece estar esquecido... eu não esqueci nem o nome do SOLDADO LUÍS
eu nada esqueci! e como eu muitos e muitos outros! só não sabemos quem era ou não aliado do Spínola, nem quem atraiçoou Abril!
o facto é que aos poucos desde o 25 de Novembro as conquistas de Abril foram-se perdendo.
Hoje o povo sofre, vive mal e por desgraça muitos jovens, mesmo estudantes desconhecem o que foi o fascismo em Portugal e o valor do 25 de Abril de 1974, que lhes chegou na Liberdade herdada desse dia, sem que saibam tudo o que lhe devem!
o Governo disso tem culpa, tem culpa o ministro da Educação, mas e os professores? não têm autonomia para introduzir nos seus ensinamentos a História desse dia único no Mundo? Não terão culpa os pais que não falam com seus filhos?
Não teremos culpa todos nôs, cada um de nós por consentir este estado de coisas? Amigos e Companheiros, há anos que grito pelo reerguer de Abril! isso depende da vontade e da capacidade de luta do povo através de sindicatos e todas as organizações de Esquerda!
Para que não vivamos nunca mais a 24 de Abril é que a Liberdade chegou pelas vossa mãos Capitães,e pelo POVO que veio para as ruas em massa e foi dessa união POVO/MFA
que nasceu a Revolução! e nao se matou ninguém! pois que sem matar ninguém, com a mesma beleza e poesia desses cravos rubros, conquistemos de novo Abril! tão pacificamente como da primeira vez, mas eficaz e sem retrocesso!
Para que o Povo volte a ter o direito à confiança na vida, à Esperança!
que para dor nos bastam as terríveis leis da Natureza a que infelizmente não podemos escapar! com o seu caso presente!
Unidos todos por outro magnifico Abril!
A Unidade é a palavra do momento!
Por Portugal, pelo seu povo, pelas crianças, VIVA O 25 de ABRIL de 1974! A CONSUMAR E A CONSUMIR SEM MODERAÇÃO! Porque só assim podemos ter a certeza de PAZ E PROGRESSO!
25 de ABRIL DE 1974 SEMPRE
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Caros Companheiros, Amigos, Leitores

aproveito a estadia no hospital para ir revendo poemas antigos, talvez para algum futuro livro ( em casa, é-me tarefa quase impossível! Destino-me a fazer correcções nalgum poema e quando dou por mim, arranquei para outro a partir da ideia do primeiro, mas que segue caminho seu e que se afasta completamente da ideia inicial! e continua o poema por corrigir! Aqui é diferente! a poesia que daqui se extrai vai ter que ser passada pelo frio, tanto sofrimento aqui se vê, que estou sobre brasas incapaz de produzir.
Com um certo distanciamento, quando cada emoção encontrar o som ou o tom que a defina, será então o momento de escrever. Agora teria a sensação de estar a servir-me em lauta mesa de sofrimento. Não me sentiria bem!
encontrei pois entre os poemas um verso solto
e o mais incrível é que parece ter sido feito ao presente

A indiferença perante o que nos rodeia sufoca.

o que terei vivido ou visto no momento em que o escrevi? tantas vezes terei visto sofrer!

Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

marilia

na amizade, no amor não há nunca excessos, somente quis clarificar as dificuldades acrescidas das diásporas e que nunca por nunca seriam as comemorações de uma data que prezo, mas que está tão muitilada a mudar o rumo às coisas.

asilva