sábado, 28 de novembro de 2009



Barqueiro do Barco Negro



Barqueiro do barco negro,

quero voltar à minha terra.

Naqueles longes de bruma

tenho os meus irmãos esperando

o estilhaçar do silêncio

que pesa sobre a montanha.

Naqueles longes de bruma

os homens perdem o riso.

Parou o tempo. E o Sol

desmaia logo ao nascer.

Barqueiro do barco negro,

quero voltar à minha terra.

O hálito de fogo e cinza

do monstro que traz a morte

seca os prados, seca os rios,

faz mirrar os pensamentos.

Não há estrela que perdure

na noite densa do medo.

Neva o luar sobre as casas

enregelando a vontade.

Barqueiro do barco negro,

quero voltar à minha terra.

Morrem os rios nas fontes,

morre a semente no chão,

morre o grito na garganta,

morre o protesto no sangue.

Os lobos rondam uivantes

de lanternas apontadas.

Barqueiro, quero voltar

com olhos de fogo-posto.

Barqueiro do barco negro,

ai, barqueiro do barco negro...


Carlos Domingos




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