sexta-feira, 29 de maio de 2009

EU, CIDADÃO-MILITAR, ME APRESENTO (IV): UMA PÁGINA AVULSA DESTES FARRAPOS DE ESTÓRIAS DO QUOTIDIANO.



O - bolinha vermelha

Angola, 12 Janeiro 72


Levantei-me pelas 9h e até às 11h falei com o Alf Galante ( estava a fazer o estágio para capitão).Às 11 fui até ao gabinete do capitão Renato, comandante da companhia do Cavungo. Foi-me apresentado o esquema a seguir nos interrogatórios à população que se apresentava, baseado exclusivamente em perguntas e respostas, sem a menor insinuação explicita ou implícita a qualquer técnica de coacção física ou de chantagem psicológica ou outra.

Encarregou-me o capitão de interrogar a mulher do Soba de Samussenga, porém quem procedeu àquele inquérito foi o capitão. Não me deu qualquer explicação pela mudança de opinião, não o interroguei sobre isso, e até achei bem.

Assisti ao interrogatório. A mulher pareceu-me ser muito esperta e muito subtil. Pareceu-me saber muito mais do que disse, porque nada declarou ( hoje vejo o mesmo padrão nos ilustres senhores de Portugal, as excelências, que vão às comissões parlamentares dizerem que os anteriores pares na Governança do país são uns meros e reles conspiradores e mentirosos – um vómito. EU vomito no real sentido da palavra. O retrato de um país subdesenvolvido. Que gente !).

Versifiquei que os congoleses têm um controlo apertado sobre as pessoas, pois consta no seu BI se votaram, e que de acordo com as nossas relações familiares não se compreende qual a árvore genealógica daquelas pessoas, os primos não são primos etc, e sobre isto somos mandados para aqui sem qualquer formação, então, como entender o muito pouco que dizem? Enfim inovações. ( estes défices mantêm-se, embora haja algum esforço ao nível da formação, mas que à data de 2007 precisava de ser aprofundada, quanto à comunicação não verbal e aos interditos sexuais no âmbito da religião muçulmana)

Passou ainda, por aqui, o MVL ( coluna logística de abastecimento, grande acontecimento por estas paragens, quase dia de S. Cristóvão) constituído por 25 viaturas pesadas, incluindo as da escolta.

Li um pouco sobre a história da filosofia Ocidental ( na guerra alguns liam). Escrevi à minha mãe e ao Berto ( uma actividade muito, muito importante).

Depois do jantar gravei um pouco de música e ouvi umas histórias complicadas da guerra e outras de magia.

Assinei o dia e a página com o
a. da silva


PS: Todavia nem sempre as noites foram tão castas, na noite de 11 Janeiro 72 fui desafiado pelos alferes para ir a uma “guerra” qualquer com umas “pretas”( não sou, e nunca fui santo, ou pudico), mas não fui… Mas destes amores e desamores de ocasião, ou talvez não, falaremos por aí adiante, e de quanto é capaz a força da libido, é inimaginável.

Também a súbita doença de dois grandes amigos que pareciam fortes, invencíveis, e que desejo que recuperem, enquanto um pela sua idade e tipo de doença – cancro insidioso, traidor, porque, silenciosamente, minou quem fazia regulares exames, tem uma sentença já decidida, resta saber quando passará em julgado, levou-me a pensar que frequentemente nestes farrapos do quotidiano refiro problemas gastrointestinais que hoje se mantêm. Não terá sido um custo desta vida de soldado de Portugal?

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá!
Conte também as histórias de magia!!
Beijinhos
Estela

ECO.com disse...

Vá lá João espero ansiosamente pela continuação das páginas da tua vida! É um prazer poder ler-te!
Bjinho
Isabel

Anónimo disse...

Ao ler este último blogue, pensei em como eramos e ainda somos racistas! O ir às pretas deve ainda hoje fazer parte de muitos de nós! Será? Nunca percebi
muito bem o que é "raça". Ou talvez não tenha sido bem esclarecida Sinceramente prefiro ficar sem saber o que será.
Fernanda Neves

Marília Gonçalves disse...

Estimada Dr. Fernanda Neves

Por tudo o que tenho lido, por quantos documentários científicos tenho visto, estou inteiramente de acordo com o seu ponto de vista
já que tal expressão denota não só racismo mas uma total falta de delicadeza para com a mulher, infelizmente o fascismo deixou razies machistas também, e as mentalidades, são o que há de mais longo a transformar.Além do que a afronta mesmo verbal é o caminho para a agressão física e nisso qualquer mulher seje donde fôr e tenha as caracteristicas que tiver sô pode vivê-lo como uma ameaça a combater com todas as forças, hà expressoes que a dignindade impede de fazer eco.
deixo aqui para quem quiser tirar dúvidas um link para site em francês o que deploro, mas que tem a vantagem de ser bastante claro

Marília Gonçalves


"tous les homo sapiens ont la même origine"
e apenas os
http://www.hominides.com/

e em português

http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_sapiens



http://www.hominides.com/html/dossiers/race.html