sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Escreva mãe


Escreva mãe
Escreva,
Porque hoje estilo,
Verso a verso
O estalo que me acontece ao acalho
Não me cale mãe,
Se é que encalho,
Deixe-me enxuto
Deixe-me sepulto
Neste poema que se instala
Emudecido em talco

Escreva,
Escreva mae,
Escreva,
São pássaros!
pássaros!
pássaros e não andorinhas
Que bicam o arroz feito dos seus filhos mãe
Cantarolando saciados da nossa desgraça
São pássaros!
E eles, já não são mais pássaros mãe
São passaredos parasitas!
Que dos quatro cantos do mundo
Nos inundam e cantam mãe
E do espaço que nunca lá estivemos
Voam, voam e voam
Depositam grão a grão
O purificado cereal dos seus bossudos ventres
Olha para eles mãe!
São pássaros!
pássaros!
No brio adestrado das suas asas
São pássaros mãe!
Quantos grilhões lhes prende sozinhos ao espaço?
Quantos grilhões lhes prende à liberdade dos pássaros?
E a nós mãe! No vazio das nossas negras mãos?

Autor: Noé Filimão Massango
In: Diário inconsulto da minha mãe

Noé Filimão Massango Poeta e médico Moçambique
Médico Clínico Geral graduado pelo curso de Medicina na Universidade Eduardo Mondlane. É também músico tradicional com várias participações televisivas, radiofónicas e espectáculo. Colaborador /publicado em 5 jornais locais, 3 revistas nos géneros de prosa, poesia e artigos de opinião. É membro fundador da União Nacional dos Escritores [UNE], da Academia Moçambicana de Artes Letras e Ideias [AMALI]. E membro fundador da organização:Jovens Pela Dignidade Humana
nofimas@yahoo.com.br

1 comentário:

Marília Gonçalves disse...

Vozes D'África

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
(continua)

Castro Alves